sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aqui pode falar mal do Papa



Houve forte reação dos políticos e da mídia na Alemanha depois que o Papa Bento XVI reabilitou o bispo negador do Holocausto, da Seita Pio X. A chanceler Angela Merkel pediu explicações a Sua Santidade. A revista Spiegel fez uma reportagem de capa. Como pode ser ver na figura, a chamada é "Um Papa alemão danifica a Igreja Católica" (o verbo blamieren é meio difícil de traduzir). A reportagem fez críticas pesadas. Disse que o Papa nunca foi um anti-semita mas considerou que ele não pode alegar ingenuidade, alegando que não sabia que pequenos atos, supostamente religiosos, pudessem ter interpretação política. Isto porque Bento XVI já tem experiência prévia, como aquela palestra de Regensburg, que gerou polêmica com os muçulmanos. A revista colocou como possível motivação para a reabilitação do bispo negacionista a simpatia do Papa pelo tradicionalismo, defendido pela Seita Pio X. Segundo a reportagem, não é possível descrever Bento XVI simplesmente como um Papa que gosta de perdoar porque o perdão tem sentido único. Foi citado Leonardo Boff, que não foi perdoado. Por fim, a reportagem disse que o episódio estremeceu a relação entre a Igreja Católica e a Alemanha, que estavam muito boas em 2005, por causa da eleição do atual Papa. Faz sentido as críticas pesadas, porque um assunto delicado na Alemanha foi mexido. Aqui, negar o Holocausto é crime. Mas mesmo fora da Alemanha, o Papa merece críticas por algumas coisas que vem falando e fazendo.

Mas não é o que se vê no Brasil, onde críticas pesadas ao Papa são escritas apenas em periódicos de público restrito. A mídia de massas no Brasil pode até pegar pesado com fanáticos evangélicos, mas as críticas ao Papa, quando existem, são sempre ultra-moderadas. Não sei como foi a cobertura no Brasil deste caso mais recente, porque pouco acompanho o que sai na mídia brasileira, agora que estou fora. Mas quando eu estava no Brasil, eu lembro que quando o Papa decidiu beatificar franquistas que morreram na Guerra Civil Espanhola, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria bem pequena que fazia os mais desavisados entenderem que os beatificados foram vítimas do franquismo. Não sei se os jornalistas brasileiros têm medo de ir para o inferno, ou medo de perder leitores. O mesmo se pode dizer dos políticos, quase todos eles tentando evitar ser contra os dogmas da Igreja, para não perder eleitores. Na maior cidade do Brasil, que se esperaria ser a mais tolerante, ateísmo já foi motivo de derrota eleitoral. Isto seria impensável ocorrer em Berlim. Por falar nisso, a capital da Alemanha tem prefeito gay. E não vi em momento algum a oposição perguntar se ele é casado e tem filhos.

Por fim, clicando aqui, é possível ver algumas charges feitas pela Spiegel sobre o deslize do Papa.

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