sábado, 28 de fevereiro de 2009

Trabalho apresentado





Na quinta-feira desta semana, meu grupo apresentou o trabalho sobre as sugestões para a melhoria da prática do Orçamento Participativo (Burgerhaushalt) em Erfurt. A apresenção ocorreu em um dos belos salões da prefeitura, que como as fotos indicam, trata-se de um cômodo do século passado, de mil quatrocentos e alguma coisa, usando a linguagem de Cardoso, do Homem que Copiava. Havia umas dez pessoas da prefeitura assistindo.

Em posts anteriores, eu já havia mencionado brevemente o conteúdo do meu trabalho. Desde 2006, a prefeitura de Erfurt vem implementando uma política de Orçamento Participativo, diferente do conceito brasileiro, mas com menção a Porto Alegre no site. Aqui, como a cidade está em fase inicial de implementação, o funcionamento é bem simples por enquanto. As pessoas podem mandar, para o Departamento de Desenvolvimento da cidade, sugestões de como gastar ou economizar recursos públicos. Este departamento envia, ao mesmo tempo, tais sugestões para serem avaliadas tecnicamente pelos departamentos competentes da administração municipal e politicamente pelos partidos. No fim, as sugestões dos cidadãos são votadas na casa legislativa da cidade (Stadtrat).

Os principais problemas são dois: primeiro, poucas pessoas participam. No último ciclo, houve apenas 77 sugestões e 50 participantes. Segundo, o Departamento de Desenvolvimento não teria capacidade de lidar com todas as sugestões se seu número fosse grande. Há apenas uma pessoa em tal departamento trabalhando com isso, e tal trabalho não é sua única função. Além do mais, o conceito não atinge um dos objetivos de qualquer OP, que é o desenvolvimento da cidadania. Com este formato, o OP de Erfurt está mais para "mande sua cartinha para o Papai Noel". Na Alemanha, há experiências bem melhores em outras cidades. Colonia tem um forum de discussao on-line, onde cidadãos trocam idéias. Berlin-Lichtemberg, além do forum on-line, tem reuniões locais presenciais.

Ao propor sugestões, consideramos os recursos máximos que a prefeitura de Erfurt pretende gastar com o funcionamento anual do OP: seis mil euros. Sugerimos o uso de um fórum de discussão on-line gratuito, em que cidadãos discutem e fazem o ranking de suas propostas. Assim, o Departamento de Desenvolvimento precisaria mandar apenas as propostas mais bem ranqueadas para avaliação. Sugerimos também para que as propostas tenham primeiro a avaliação técnica da administração, depois a avaliação politica dos partidos. O chefe do Departamento de Desenvolvimento sabe que isto seria melhor, mas afirmou que por enquanto os processos são simultaneos devido a falta de tempo. Com propostas menos numerosas e mais selecionadas, este problema se reduziria.

Quanto ao fórum de discussão, sugerimos o uso de um gratuito. A Internet tem muitos. Mostramos o www.forumromanum.com, um site que oferece fóruns que podem ser integrados ao site do usuário, no caso a prefeitura de Erfurt. O conceito do ForumRomanum é diferente do conceito de site de relacionamentos com fóruns, como o Orkut. Só se acessa os fóruns de discussão do Orkut entrando no Orkut. Já os fóruns do ForumRomanum podem ser acessados por um link a ser colocado no site do moderador. Fizemos um plano B para caso a prefeitura não goste de modernidades. Colocamos a possibilidade de se contratar uma empresa para programar o forum de discussão e votação. Neste caso, porém, os seis mil euros seriam estourados e muito.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Karneval

Aqui em Erfurt, não tem feriado na semana de Carnaval. A celebração ocorre apenas no domingo, em um desfile de rua. Alguns clubes também organizam eventos fechados, mas não sei como é que são.
Ontem eu dei uma olhada no desfile de rua. Trata-se de um evento voltado mais para crianças e tiozinhos. Há caminhões (e até limusines) organizados por esses mencionados clubes, com gente fantasiada em cima. Destes veículos, os fantasiados jogam balas, chocolates, garrafinhas de licor, discos de brinquedo e até mesmo salsichas cruas para o público. Muitos desses caminhões tocam "músicas" com bate-estaca, cantadas em alemão. Pessoas previdentes levam guarda chuva para pegar a maior quantidade de doces possível, para não ter que comprá-los ao longo do ano. O guarda chuva destes também foi útil contra a pequena garoa que ocorreu durante alguns momentos do desfile.
O som "musical" dos caminhões compete com o das fanfarras, que desfilam no chão, batendo tambores e tocando instrumentos de sopro. No chão, também há grupos de pessoas fantasiadas. Alguns deles, satirizando eventos atuais, como a crise econômica mundial.















segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Peru lá em cima

O filme "La Teta Asustada", da diretora peruana Claudia Lhosa, ganhou o Urso de Ouro em Berlim.
Não foi o único prêmio para a América do Sul. O filme "Gigante", do argentino Adrián Biniez ganhou prêmio de melhor estréia.

O caso da brasileira, o jornal de Zurique e a extrema-direita na Europa

No meu outro blog, hospedado na comunidade do Luís Nassif, postei um texto falando da xenofobia e do neonazismo na Europa, que existem mesmo que o caso da brasileira tenha sido uma cascata. Já tem gente (no Brasil) querendo usar o caso como boneco de palha para tentar negar que o extremismo de direita exista.
Também falei do ridículo piti do jornal de Zurique contra o Brasil, que chegou a dizer que no Brasil é comum as mulheres simularem gravidez, e que existe muito anti-semitismo e xenofobia no Brasil.
No meu texto, ainda, eu critiquei a postura do blog e da comunidade do Luís Nassif em relação ao caso.
Quem tiver paciência, vá ao meu outro blog e leia o texto.
Agora chega deste assunto. Meus próximos posts serão sobre assuntos mais agradáveis.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Lamentável

http://br.noticias.yahoo.com/s/12022009/25/manchetes-neonazistas-torturam-brasileira-gravida-na.html

Do Yahoo Brasil

Neonazistas torturam brasileira grávida na Suíça

A advogada brasileira Paula Oliveira, grávida de três meses de gêmeas, foi atacada e torturada por três neonazistas na noite de segunda-feira na cidade suíça de Dubendorf, na periferia de Zurique. Os agressores inscreveram, com um estilete, a sigla SVP - iniciais em alemão do Partido do Povo Suíço, de extrema direita - na barriga e nas pernas da brasileira. O ataque fez com que Paula, casada com um suíço, abortasse.

O caso ganhou contornos políticos depois que a cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, constatou que a polícia suíça sequer abriu investigação para identificar os agressores. "Trata-se claramente de um ataque xenófobo", afirmou Vitória, que hoje vai até o escritório central da polícia exigir esclarecimentos. "Se for necessário, levaremos o caso às mais altas instâncias", acrescentou, indicando que o Itamaraty pode pedir também explicações à Embaixada da Suíça em Brasília.

Nos últimos meses, ataques xenófobos têm ganhado força na Europa diante de um discurso cada vez mais racista dos partidos de extrema direita. Na Suíça, a crise financeira internacional e o aumento do desemprego deram popularidade aos partidos políticos que defendem medidas contra a imigração. Casos de ataques contra estrangeiros aumentaram, mas, até agora, os brasileiros não eram os alvos preferidos - as principais vítimas são imigrantes turcos, ex-iugoslavos e africanos.

Paula, uma pernambucana de 26 anos, trabalha na multinacional Maersk e, segundo o Itamaraty, vive legalmente na Suíça. Ela foi atacada quando voltava do trabalho, após desembarcar na estação de trem perto de sua casa. Paula falava ao telefone celular com a mãe, que estava no Recife, quando foi cercada pelos três skinheads. Levada para um parque, foi espancada por 15 minutos e teve sua roupa parcialmente arrancada. Um deles usou um estilete para cortar barriga, braços, rosto, tórax e pernas. "Ela ficou marcada em várias partes do corpo", disse a cônsul.

A diplomacia brasileira criticou o comportamento da polícia após a agressão. Isso porque, ao prestar queixa, Paula foi interrogada pelo detetive Andreas Hug - ele duvidou de sua versão, querendo saber se ela não teria se autoflagelado. Paula disse que um dos agressores tinha uma suástica tatuada no corpo. A cônsul também passou por uma situação constrangedora ao telefonar para a polícia. A delegacia local apenas a informou que, se quisesse saber detalhes da agressão, que perguntasse à vítima. Por enquanto, familiares disseram que ela permanecerá no hospital local. Em breve, ela deve voltar para o Recife.

Paula é filha de Paulo Oliveira, secretário parlamentar do ex-governador de Pernambuco e deputado federal Roberto Magalhães (DEM-PE). Os pais da brasileira chegaram ontem a Zurique e hoje pretendem buscar informações sobre a investigação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Comentário meu: Caso um pouco preocupante, ainda mais devido ao fato de existir muitos neonazistas no Leste da Alemanha. Mas é óbvio que isto não vai apavorar meu dia-a-dia. Esperemos que o acontecimento não fique impune. Sobre o comportamento da polícia, o que ocorreu em Zurique não é prática generalizada na Europa. Quando minha carteira sumiu, no ano passado, fui bem atendido na delegacia.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aqui pode falar mal do Papa



Houve forte reação dos políticos e da mídia na Alemanha depois que o Papa Bento XVI reabilitou o bispo negador do Holocausto, da Seita Pio X. A chanceler Angela Merkel pediu explicações a Sua Santidade. A revista Spiegel fez uma reportagem de capa. Como pode ser ver na figura, a chamada é "Um Papa alemão danifica a Igreja Católica" (o verbo blamieren é meio difícil de traduzir). A reportagem fez críticas pesadas. Disse que o Papa nunca foi um anti-semita mas considerou que ele não pode alegar ingenuidade, alegando que não sabia que pequenos atos, supostamente religiosos, pudessem ter interpretação política. Isto porque Bento XVI já tem experiência prévia, como aquela palestra de Regensburg, que gerou polêmica com os muçulmanos. A revista colocou como possível motivação para a reabilitação do bispo negacionista a simpatia do Papa pelo tradicionalismo, defendido pela Seita Pio X. Segundo a reportagem, não é possível descrever Bento XVI simplesmente como um Papa que gosta de perdoar porque o perdão tem sentido único. Foi citado Leonardo Boff, que não foi perdoado. Por fim, a reportagem disse que o episódio estremeceu a relação entre a Igreja Católica e a Alemanha, que estavam muito boas em 2005, por causa da eleição do atual Papa. Faz sentido as críticas pesadas, porque um assunto delicado na Alemanha foi mexido. Aqui, negar o Holocausto é crime. Mas mesmo fora da Alemanha, o Papa merece críticas por algumas coisas que vem falando e fazendo.

Mas não é o que se vê no Brasil, onde críticas pesadas ao Papa são escritas apenas em periódicos de público restrito. A mídia de massas no Brasil pode até pegar pesado com fanáticos evangélicos, mas as críticas ao Papa, quando existem, são sempre ultra-moderadas. Não sei como foi a cobertura no Brasil deste caso mais recente, porque pouco acompanho o que sai na mídia brasileira, agora que estou fora. Mas quando eu estava no Brasil, eu lembro que quando o Papa decidiu beatificar franquistas que morreram na Guerra Civil Espanhola, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria bem pequena que fazia os mais desavisados entenderem que os beatificados foram vítimas do franquismo. Não sei se os jornalistas brasileiros têm medo de ir para o inferno, ou medo de perder leitores. O mesmo se pode dizer dos políticos, quase todos eles tentando evitar ser contra os dogmas da Igreja, para não perder eleitores. Na maior cidade do Brasil, que se esperaria ser a mais tolerante, ateísmo já foi motivo de derrota eleitoral. Isto seria impensável ocorrer em Berlim. Por falar nisso, a capital da Alemanha tem prefeito gay. E não vi em momento algum a oposição perguntar se ele é casado e tem filhos.

Por fim, clicando aqui, é possível ver algumas charges feitas pela Spiegel sobre o deslize do Papa.