Enquanto França, Reino Unido e Espanha prometem programas de expansão fiscal para reduzir os efeitos da crise, a Alemanha permanece estática. Em entrevista à Newsweek no dia 6 de dezembro, o Ministro das Finanças da Alemanha, o social-democrata Peter Steinbruck, disse não apenas que a Alemanha não vai fazer aumento significativo de gastos e corte significativo de impostos, quanto também criticou o plano de Gordon Brown de reduzir o imposto sobre valor agregado (clique aqui para ler a entrevista). Segundo Steinbruck, ninguém que não compraria um aparelho de DVD que custa 39,90 vai passar a comprar só porque o aparelho passará a custar 39,10. E que este corte de impostos vai criar uma dívida a ser paga pela geração futura. Este mesmo raciocínio absurdo pode ser utilizado para dizer que ninguém deve perder tempo votando em eleição: o voto de uma pessoa não vai mudar o resultado. Dizer que uma política aplicada em dose moderada não é argumento para provar que tal política é errada. Apenas reforça a idéia de que é preciso mais, e não menos. Steinbruck demonstrou um extremo conservadorismo e apresentou um argumento (o da elasticidade-preço) contra a redução impostos quando o objetivo é aumentar a demanda agregada. É pouco provável que para ele o mesmo argumento tenha valor se o objetivo do corte de impostos fosse a redução do tamanho do Estado.
A Alemanha sempre se considera um grande defensor do multilateralismo, mas desta vez está agindo de forma completamente unilateral, ignorando suas responsabilidades dentro da União Européia, que tem uma economia bastante integrada. Um aumento de demanda na França, no Reino Unido e na Espanha gera renda também na Alemanha porque parte desta demanda é suprida por produtos alemães. Uma expansão de demanda na Alemanha faria o mesmo com os outros países. Como a Alemanha é a maior economia da Europa, seria o país que mais auxiliaria o continente.
Ironicamente, a Alemanha é o país que reúne mais condições de fazer política fiscal expansionista. O país é um dos poucos do mundo desenvolvido a não ter um setor público deficitário. A relação dívida pública/PIB é bem pequena. Como a carga tributária é uma das mais baixas da Europa Ocidental Continental, é possível ainda fazer expansão fiscal da forma mais subversiva: elevando gastos e não necessariamente reduzindo impostos.
Outro exemplo de unilateralismo praticado pela Alemanha é a estagnação do salário real, vigente há 10 anos. Como a produtividade dos trabalhadores ainda cresce, os custos do trabalho caem. Em uma área monetária comum, isto equivale a uma depreciação cambial, também conhecida como "política de empobrecer a vizinhança". Os outros países culpam a Alemanha pelo aumento do desemprego.
Apesar de na economia a Alemanha estar defendendo estritamente seus interesses, ao invés de defender o interesse comum dos europeus, nem mesmo a própria Alemanha parece estar se beneficiando disto. É previsto que o PIB do país tenha retração de 1%.
Esta aversão da Alemanha a gastar mais pode ser cultural. Os alemães são em maioria um povo bastante poupador. Tanto que muitos deles não deixam a torneira aberta para lavar pratos. O pós-keynesianismo tem pouquíssimo espaço na academia alemã. Esta característica cultural pode ter beneficiado a Alemanha em outros momentos. Mas não agora.
Com um social-democrata desses, a Alemanha não precisa de conservadores.
Pouco depois do crash de 1929, um Ministro das Finanças social-democrata na Alemanha se recusou a sair da ortodoxia. O resultado foi um aumento crescente do desemprego, depressão, e aí... É óbvio que isto não vai acontecer de novo. Mas ainda sim poderá haver uma consequência negativa: o prolongamento da crise na Europa, sem obviamente, rupturas institucionais, até porque os tempos são bem diferentes.
Comentário sobre a atitude de Steinbruck pode ser lido no blog do Paul Krugman.
É observável também que a chanceler Angela Merkel está sendo bem criticada pela imprensa na Europa. Entre os críticos, estão a The Economist e a Spiegel.
A Alemanha sempre se considera um grande defensor do multilateralismo, mas desta vez está agindo de forma completamente unilateral, ignorando suas responsabilidades dentro da União Européia, que tem uma economia bastante integrada. Um aumento de demanda na França, no Reino Unido e na Espanha gera renda também na Alemanha porque parte desta demanda é suprida por produtos alemães. Uma expansão de demanda na Alemanha faria o mesmo com os outros países. Como a Alemanha é a maior economia da Europa, seria o país que mais auxiliaria o continente.
Ironicamente, a Alemanha é o país que reúne mais condições de fazer política fiscal expansionista. O país é um dos poucos do mundo desenvolvido a não ter um setor público deficitário. A relação dívida pública/PIB é bem pequena. Como a carga tributária é uma das mais baixas da Europa Ocidental Continental, é possível ainda fazer expansão fiscal da forma mais subversiva: elevando gastos e não necessariamente reduzindo impostos.
Outro exemplo de unilateralismo praticado pela Alemanha é a estagnação do salário real, vigente há 10 anos. Como a produtividade dos trabalhadores ainda cresce, os custos do trabalho caem. Em uma área monetária comum, isto equivale a uma depreciação cambial, também conhecida como "política de empobrecer a vizinhança". Os outros países culpam a Alemanha pelo aumento do desemprego.
Apesar de na economia a Alemanha estar defendendo estritamente seus interesses, ao invés de defender o interesse comum dos europeus, nem mesmo a própria Alemanha parece estar se beneficiando disto. É previsto que o PIB do país tenha retração de 1%.
Esta aversão da Alemanha a gastar mais pode ser cultural. Os alemães são em maioria um povo bastante poupador. Tanto que muitos deles não deixam a torneira aberta para lavar pratos. O pós-keynesianismo tem pouquíssimo espaço na academia alemã. Esta característica cultural pode ter beneficiado a Alemanha em outros momentos. Mas não agora.
Com um social-democrata desses, a Alemanha não precisa de conservadores.
Pouco depois do crash de 1929, um Ministro das Finanças social-democrata na Alemanha se recusou a sair da ortodoxia. O resultado foi um aumento crescente do desemprego, depressão, e aí... É óbvio que isto não vai acontecer de novo. Mas ainda sim poderá haver uma consequência negativa: o prolongamento da crise na Europa, sem obviamente, rupturas institucionais, até porque os tempos são bem diferentes.
Comentário sobre a atitude de Steinbruck pode ser lido no blog do Paul Krugman.
É observável também que a chanceler Angela Merkel está sendo bem criticada pela imprensa na Europa. Entre os críticos, estão a The Economist e a Spiegel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário