Nesta última quarta-feira, eu vi o filme "Der Baader Meinhof Complex", do não tão conhecido fora da Alemanha diretor Uli Edel e do roteirista Bernd Eichinger (o mesmo do A Queda, os últimos dias de Hitler), baseado no livro de Stefan Aust.
O Baader Meinhof é o nome não oficial da organização revolucionária Rote Arme Fraktion, que praticou assaltos, sequestros e atentados na Alemanha durante os anos 60 e 70. O nome não oficial provém dos nomes dos principais integrantes do movimento, Andreas Baader e Ulrike Meinhof.
O filme começa com Mercedes-Benz, da Janis Joplin, ao fundo, e uma praia de nudismo na Alemanha em 1967, onde a jornalista e intelectual de esquerda Ulrike Meinhof passava as férias com o marido e com os filhos pequenos. Um destes vê um jornal que menciona a visita do xá Reza Pahlevi, do Irã, a Berlim Ocidental e pergunta o que é um xá. O pai diz que é um imperador muito mau. Em seguida, o filme corta para um recorte de jornal com uma carta aberta escrita por Ulrike Meinhof à esposa do xá, sobre a miséria e opressão em que vivia o povo iraniano. A cena seguinte é o grande protesto contra o xá do Irã em Berlim Ocidental, no dia 2 de junho de 1967. Iranianos simpaizantes do líder e policiais batem nos manifestantes, um deles é morto a bala. Pouco depois, é mostrado um discurso do líder estudantil Rudi Dutschke contra a Guerra do Vietnã, em 1968. Um jovem de extrema-direita atira em Rudi e logo depois, milhares de estudantes atacam distribuidores do jornal reacionário Bild, acusado de fazer apologia à tentativa de assassinato.
Estas cenas iniciais mostram o que pode ter levado esquerdistas mais radicais a optarem pela luta armada. Em seguida, a jovem Gudrun Ensslin sai de casa após ver seus pais não compartilharem seu inconformismo contra o assassinato de vietnamitas feito pelos EUA, o assassinato de palestinos feito por Israel, o apoio da Alemanha aos EUA na Guerra Fria, e a presença de ex-nazistas no establishment político da Alemanha naquele tempo. A RAF é formada, tendo como líderes o casal Andreas Baader e Gudrun Ensslin, e como mentora intelectual, Ulrike Meinhof.
Depois, há uma seqüência de muita ação. Atentados, fuga à Itália, volta à Alemanha na clandestinidade, assaltos à banco, resgates à companheiros presos, ataques à bases militares dos EUA e treinamento com insurgentes árabes na Jordânia. Os laços entre a RAF e os árabes era tão grande, que, como foi mostrado no film, alguns dos presos para ser soltos na lista de exigência do seqüestro de atletas israelenses nas Olimpíadas de 1972 eram da RAF. Claro que o choque cultural era inevitável. Os toalhas de mesa na cabeça ficaram espantados (e muito provavelmente gostaram) quando viram as guerrilheiras alemãs chegando de shortinho ao campo de treinamento (era deserto, quente, ué). Depois, no acampamento, os alemães ficavam pelados e o Andreas Baader tentava explicar aos árabes que fazer revolução e fazer amor era a mesma coisa.
Finalmente vem a prisão de todos os líderes. Eram mostradas vários cartazes com fotos em preto-e-branco com o anúncio "procuram-se terroristas". Um X em cada foto simbolizava cada um que tinha caído. No presídio de segurança máxima começa o longo processo. Neste meio de tempo, Ulrike Meinhof é encontrada enforcada em sua cela, em 1976. O laudo comprovou suidício, embora haja teorias conspiratórias que neguem.
Em meados dos anos 70, surge uma segunda geração da RAF, que pratica atos violentos com o intuito de libertar a primeira geração. O ponto culminante foi o outono de 1977, com o seqüestro do presidente da associação de empresários da Alemanha Schleyer e o seqüestro de um avião de passageiros da Lufthansa. O governo se recusa a soltar os presos. Durante este período, Baader é encontrado morto na prisão com uma bala na cabeça e Ensslin é encontrada enforcada. Os laudos também confirmaram suicídio. Uma operação de resgate espetacular salva o avião. Schleyer é assassinado. O filme termina tocando Blowing in the Wind (do Bob Dylan mesmo, e não do Suplicy) nos créditos.
O filme de Uli Edel foi criticado pela falta de emoção. Não houve construção profunda de personagens. A personagem mais ou menos principal foi Ulrike Meinhof, mostrada brevemente como uma pessoa verdadeiramente idealista e um pouco depressiva. Andreas Baader apareceu como meio fanfarrão e bundalelê. Mesmo estes dois pesonagens teve que dividir cena com muitos outros. O que dominou o filme foi a seqüência de fatos exibidos de forma mais realista possível. Foi a forma de empacotar 10 anos em duas horas e meia.
O que os críticos viram como ponto fraco, eu vi como ponto forte. O diretor e o roteirista souberam misturar entretenimento com informação sobre uma história que não muita gente conhece direito. E filme é filme, não é tratado de filosofia, sociologia ou psicologia.
O filme foi neutro porque se limitou a mostrar fatos, e achei que esta neutralidade foi superior à "neutralidade" do mais famoso filme brasileiro sobre guerrilheiros, O que é isso companheiro, que tentou explicar muito mastigadinho que a repressão era ruim, mas que sequestrar por causa disso era feio. Já o Baader Meinhof Complex não. Simplesmente mostrou no começo o que poderia ter levado jovens mais radicais a pegar em armas, e depois, todos os absurdos que etes jovens fizeram, incluindo muito sangue. Cabe ao espectador tero dissernimento de saber que assaltar, seqüestrar e explodir bombas não é uma coisa certa. Não precisa ter personagem pra ficar explicando. Não houve tempo sequer do seqüestrado dar lição de moral aos seqüestradores. Schleyer praticamente não falou, até porque sua parte era muito pequena.
O diretor Uli Edel foi esquerdista e simpatizante do movimento estudantil da Alemanha no final dos anos 60, chegou a frqüentar cursos sobre o Capital, mas mesmo naquele tempo, não concordou com os métodos da RAF.
Não vou tecer comparações entre Der Baader Meinhof Complex e O que é isso companheiro em relação aos aspectos técnicos (imagens, som, cenas de ação) porque aí seria covardia. Uma coisa que ambos os filmes de guerrilheiro tiveram em comum foi a pasteurização para estrangeiros e para quem não tinha nascido na época. Der Baader Meinhof Complex sempre quis mostrar como a história principal do filme estava conectada com o contexto mundial dos anos 60 e 70. Apareciam pessoas vendo TV com o pretexto de mostrar imagens reais em preto e branco do 1968 em Paris, Praga, Cidade do México e aquele campus dos EUA que não lembro onde é, dos atletas pretos dos EUA fazendo o sinal do movimento após ganhar o ouro, dos assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy e a famosa imagem da menina vietnamita correndo das bombas. As músicas de abertura e encerramento fizeram parte do colamento da história à sua época.
Der Baader Meinhof Complex muito provavelmente será indicado pela Alemanha para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Se será indicado, não sei. Se for, acho pouco provável que ganhe.
Acredito que no ano que vem, Der Baader Meinhof Complex esteje em alguns cinemas brasileiros. Aqui, chegou a ocupar duas salas de Multiplex. No Brasil, deve entrar em cartaz em algum cinema perto da Avenida Paulista e no Jaraguá, em Campinas, talvez. Para quem tem interesse nesta história, eu recomendo.
Um comentário:
Gostaria muito de ver o filme, sou fã do RAF e do SPK.
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