Se as eleições nos EUA são um típico caso de aplicação de jogos competitivos entre dois jogadores, o sistema político da Alemanha é um bom caso para ser aplicado a parte da Teoria dos Jogos relacionada aos jogos cooperativos, de formação de coalizões.
Aqui na Alemanha, não existe nem um bipartidarismo norte-americano, nem um multipartidarismo brasileiro. Existem dois grandes partidos, a União Democrata Cristã (CDU, preto) e o Partido Social Democrata (SPD, vermelho), cada um obtendo normalmente 35% do eleitorado, e três pequenos partidos, o Partido Liberal Democrata (FDP, amarelo), o Partido Verde (Grunen) e o Partido de Esquerda (Die Linke, roxo), cada um deles obtendo normalmente 10% do eleitorado.
Há dez anos, não havia muitas dificuldades de formar coalizões. O Partido Verde, que incluía esquerdistas, era praticamente um satélite do SPD e o FDP, conservador em economia e progressista em sociedade, era praticamente um satélite do CDU, conservador em economia e sociedade. Dependendo de qual grupo obtinha maior soma de cadeiras, forma-se uma coalizão governante, que poderia ser verde-vermelho ou amarelo-preto.
Havia também o PDS, formado por ex-comunistas da antiga República Democrática Alemã, que só tinha importância no Leste. Até que um grupo de social-democratas descontentes com o governo de Schroeder (1998-2005) fundou uma dissidência e se uniu ao PDS, criando o Die Linke. Atualmente, este partido tem mais importância nos Estados do Leste do que o próprio SPD. Só é menor que o CDU.
Ontem houve eleições estaduais em Hessen (cujas principais cidades são Wiesbaden e Frankfurt) e Niedersachsen (cuja principal cidade é Hannover). Assim como o governo central, os estados também adotam o sistema parlamentarista. O povo só elege o parlamento, e nele, uma coalizão de maioria escolhe o primeiro-ministro estadual.
O resultado em Niedersachsen foi o seguinte
CDU 42,5% (68 cadeiras)
SPD 30,3% (48 cadeiras)
FDP 8,2% (13 cadeiras)
Grunen 8% (12 cadeiras)
Linke 7,1% (11 cadeiras)
O CDU, apesar de ter perdido 5% em relação a 2003, manteve-se no poder em coalizão com o FDP.
O resultado em Hessen foi mais problemático
CDU 36,8% (42 cadeiras)
SPD 36,7% (42 cadeiras)
FDP 9,4% (11 cadeiras)
Grunen 7,5% (9 cadeiras)
Linke 5,1% (6 cadeiras)
SPD 36,7% (42 cadeiras)
FDP 9,4% (11 cadeiras)
Grunen 7,5% (9 cadeiras)
Linke 5,1% (6 cadeiras)
Não há maioria suficiente para formar nenhuma das duas coalizões tradicionais. Uma possibilidade seria um vermelho-verde-roxo, mas o SPD havia prometido em campanha não se aliar a seus dissidentes esquerdistas. Outra seria a coalizão semáforo (SPD-FDP-Grunen), mas os FDP disseram que não aceitam. A outra seria a coalizão jamaica (CDU-FDP-Grunen), mas não se sabe se os verdes aceitariam. O impasse pode durar semanas. É possível que ocorra o mesmo que aconteceu ao nível federal em 2005. Os dois principais partidos formarem uma grande coalizão. No caso, o atual primeiro-ministro Rolando Koch (CDU) se manteria no poder, pelo fato de seu partido ter conseguido uma leve vantagem, mas agora tendo seus inimigos como aliados.
Uma das razões para toda esta confusão foi o fato do Partido de Esquerda ter conseguido pela primeira vez formar uma bancada no Oeste (é preciso ter no mínimo 5% para formar uma bancada).